| (FOTO: Divulgação) | 
Na luta pelo desenvolvimento e profissionalização, o Futebol Feminino parece ter um aliado forte. O Bom Senso F. C. Criado no ano passado, o grupo que cobra melhorias para o futebol brasileiro tem abraçado o futebol feminino.
Entre alguns pontos citados, o grupo faz críticas as comparações feitas entre a derrota da seleção feminina sub-20 e a derrota sofrida nas semifinais da Copa do Mundo. Na carta, questionam como cobrar de uma modalidade que não tem o mesmo respaldo da seleção masculina, e que não tem um campeonato nacional da categoria.
Em outro trecho, questionam sobre a veracidade do que é - ou se é - investido em alguma ação para o desenvolvimento da modalidade no país, assim como na base, por exemplo.
O fato é que a luta é para que a entidade preste contas sobre estes questionamentos.
Confira a carta na íntegra:
"TERRA DEVASTADA
Pouco se ouve do futebol feminino na mídia ou dentro da CBF durante o ano, mas quando há uma medalha em jogo ou uma derrota expressiva como a que ocorreu para a Alemanha na última terça feira, chovem cobranças e comparações. Alto lá! Se fossemos comparar o futebol feminino e masculino do Brasil por proporção de investimento, a derrota por 5 x 1 para a Alemanha no Mundial sub-20 deveria ser 40 vezes pior para se equiparar ao vergonhoso 7 a 1 sofrido pela Seleção masculina na última Copa do Mundo.
Como é que se pode esperar resultados de uma equipe no Mundial sub-20 se não temos um campeonato nacional da categoria por aqui? Não temos nem campeonato estadual sub-20, aliás, não temos nada! Então como alguém espera formar atletas se não há competição para se jogar? Como cobrar essas meninas que chegaram a Seleção e defendem as cores do Brasil se elas não tiveram nenhum incentivo, base ou estrutura de treino e alimentação durante sua formação?
Não ter investimento no futebol feminino pela CBF e pelas Federações é inaceitável. A Confederação arrecada mais de R$ 400 milhões por ano e nunca se soube quanto, e se, ela investiu no desenvolvimento da modalidade no país. A entidade só pensa na Seleção e no período em que as atletas estão defendendo a nação. Antes e depois disso é cada uma por si.
Seria preferível que o futebol feminino se desvinculasse da desinteressada CBF para que pudesse criar uma confederação independente e recebesse verba da Lei Piva, destinada aos esportes “amadores” ou olímpicos. Colocaria atletas e ex-atletas no comando, contrataria gestores profissionais para tomar decisões administrativas e planejar o desenvolvimento do produto a ser vendido no mercado brasileiro. Avançaríamos anos luz mais rápido do que no modelo atual.
Sim, há um patrocínio da CAIXA no valor de R$ 10 milhões conquistado a duras penas pelo Ministério do Esporte para sustentar o Campeonato Brasileiro e suportar o custo dos jogos, das viagens e das hospedagens dos clubes. Ainda assim, o torneio tem duração de apenas dois meses e meio e não oferece estabilidade pra as atletas e nem tempo para se desenvolver o jogo, tática e fisicamente. Ainda assim, há dirigentes que atrasam ou não pagam salários, que, pasmem, são apenas acordos verbais ou ajuda de custo de valor irrisório.
Na categoria adulta, além do Campeonato Brasileiro que conta com 20 clubes (há equipes que fazem apenas 4 jogos e são eliminadas), há a Copa do Brasil e alguns Estaduais. Uma equipe do Estado de São Paulo que disputa as três competições, por exemplo, pode fazer no mínimo 13 e no máximo 40 jogos no ano. Ou seja, a maior parte dos clubes no país não joga mais do que 20 partidas. Como desenvolver o esporte assim? Como competir com as seleções estrangeiras que não param de se estruturar?
Se depois desse resumo ainda quiser comparar a Seleção Brasileira com a Alemã, saiba que no país europeu há mais de um milhão de praticantes femininas (aqui temos apenas 3 mil registradas). O campeonato nacional delas tem duas divisões que são disputadas ao longo de toda a temporada. Há ainda outras 5 categorias entre amadoras e iniciantes que estimulam o mercado a gostar, praticar e consumir o futebol feminino. Isso é fundamental para esse esporte se tornar viável.
Enfim, chega de sensacionalismo barato. Se for para falar, que seja para mostrar a realidade do que acontece no país e colocar os dirigentes contra a parede para ajudar a construir um futebol melhor. A luta é por investimentos importantes que devem ser feitos pela CBF, por uma estrutura digna, por um repasse de verbas claro e transparente, por um calendário que ofereça estabilidade ao longo da temporada, além de um projeto de formação de novas atletas e de fomentação da prática esportiva que não têm sido, por ignorância ou preconceito, valorizados como deveriam.
Quanto às jogadoras que estão lá em Montreal representando o Brasil, elas têm o nosso respeito e admiração. São oásis em terra devastada, pedras brutas que precisam ser lapidadas. Só jogadoras e ex-jogadoras serão capazes de exigir mudanças, apontar os problemas e conduzir a modalidade a um ambiente propicio para se desenvolver em todas as suas potencialidades. É preciso dar voz a essas apaixonadas atletas, não apenas pela imprensa onde as vemos derrotadas, pedindo ajuda e medindo as palavras ao criticar a falta de apoio da Confederação - com medo de retaliação -, mas pelas entidades que administram a modalidade no país. Meninas, contem com o nosso apoio nessa caminhada.
Democracia na CBF, já!"
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